Histórias de Transformação

Coleção Porta-Bolsa de Madeira Reutilizada

No nosso evento que aconteceu em Março, na Vila Madalena, tivemos alguns produtos excepcionais, todos feitos por artistas e artesãos parceiros da nossa rede, incluindo um artista afro indígena que realizou 8 porta-chaves exclusivos pra ciclou, feitos de madeira reaproveitada e que foram pintadas por ele com uma combinação de abstrato e grafismos tradicionais afro indígenas.

Depois do sucesso desses itens, também fizemos mais algumas porta bolsas para vocês terem e presentearem quem mais amam.

Conheça a história do artista por trás da pintura

Helder Gama, 46 – ou catraca para os mais íntimos, possui uma história emocionante e intimista com a arte. Nasceu e cresceu em Belém do Pará, em uma família de 10 irmãos, humilde e artística. A arte já ressoava pelas paredes da casa onde moravam, pois Luís, um dos irmãos de Helder, era artista plástico e ele, com oito anos na época, ajudava a preparar as telas e tintas do irmão.

“Lula (Luís),  tinha dom para desenho, era um artista plástico. Sempre que dava eu o ajudava e gostava disso”relembrou Helder.

A música também entrou cedo na vida de Catraca, pois o avô paterno era músico e tocava clarinete e assim, por influência, aos 14 anos ele se interessou pela música e começou a tocar na igreja que frequentava. A partir daí não largou mais a música e se tornou um ótimo percussionista, tendo a profissão como principal ganha pão.

A ancestralidade e origem da família fizeram toda diferença no desenvolvimento de Helder, sendo afro-indígena, já que a avó materna era índia e o avô quilombola. Essas raízes foram incentivo para que ele conhecesse a própria história e começasse a ingressar na arte. Por ser percussionista, ele confeccionava os próprios instrumentos e depois os pintava, com figuras e cores que remetiam a sua origem.

“Se eu não tivesse essa profissão, não teria tanto interesse sobre minha ancestralidade. Valorização e clareza com a minha pele”relatou Helder

Helder deixou Belém do Pará há mais de 18 anos, e se aventurou por outros lugares. Passou por Santarém, Alter do Chão, oeste do Pará e Manaus. Foi nessas mudanças e andanças da vida que cruzou o caminho com José Roberto Aguilar, que também é artista. Helder já havia ouvido falar sobre Aguilar, pois Luís, o irmão já falecido dele, admirava os trabalhos do artista.  José Roberto se apaixonou pelo o que viu, os tambores feitos à mão por Catraca e pintados de forma única. Foi a partir daí que o primeiro convite para ir até São Paulo surgiu e o paraense não pensou duas vezes, juntou suas coisas e partiu para a capital. Lá ele foi aperfeiçoando as técnicas e aprendeu como “jogar” as tintas sob a tela ou objeto.

Ainda em São Paulo, Helder começou a produzir as próprias obras, agora em telas e madeira. Expôs em bares e até mesmo na lojinha afro do parque Ibirapuera, local onde é possível encontrar trabalhos dele até hoje. Já expôs mais de três vezes em São Lourenço MG, cidade que passou algum tempo entre 2021 e 2022.

Helder começou a pintar na madeira, mas era em instrumentos musicais, bem diferente de uma tela ou de uma superfície plana como a madeira. Agora, pinta bandejas de madeira, que tem sido o carro chefe do artista. “Quando eu pinto na madeira me sinto em casa, pois foi onde tudo começou. É magnífico.”

Quando indagado sobre o que sente ao pintar e se relacionar com as tintas, Helder responde sem pestanejar; “a presença do meu irmão Luís, ele tá do meu lado”.

Outra curiosidade emocionante na história do artista é quando ele revela que o próprio irmão era fã de Aguilar, e infelizmente não teve a chance de conhecê-lo e, hoje, quem continuou o legado do irmão, é o próprio Helder.

“Meu irmão nunca teve grana para ir até São Paulo estudar. Ele conhecia os artistas somente pelas revistas ou televisão”

Hoje em dia Catraca está se preparando para se mudar para os EUA, a convite da professora Robin Rozario, que ao ver as obras e história de vida do paraense, se apaixonou e quis levar isso para fora. Ele irá morar em Michigan, sendo responsável por coordenar grupos de pesquisa e arte indígena da região. Enquanto a viagem não chega, nós, da ciclou, queremos aproveitar ao máximo o talento desse artista brasileiro.